Dimitris Troaditis
Ideias e práticas anarcossindicalistas em Constantinopla
Em 25 de julho de 1910, foi lançado um jornal bimestral operário e revolucionário com o nome Ergatis (“O Trabalhador”) em Constantinopla (Istambul) na Turquia, tendo como manchete e máxima da primeira página “Trabalhadores turcos, uni-vos!”. No grupo editorial – fundado um ano atrás (1909) -, participavam Stefanos Papadopoulos, Zacharias Vezestenis, Nikos Yiannios e V. Kountouris. O grupo consistia majoritariamente de gregos (2/3 dos participantes), enquanto turcos, armênios e outros não foram excluídos. Durante setembro do mesmo ano, o jornal se tornou o veículo de expressão de uma organização mais ampla com o nome de Centro Socialista da Turquia, na qual um sindicato de tipógrafos liderado por Z. Vezestenis, bem como um sindicato de professores (incluindo Ch. Theodoridi, S. Yannakakis, Iordanidis, Iosif Raftopoulos, Afroditi Ikentzoglu e Ipatya Adamantidou) participavam.
Porém, ao longo de dezembro de 1910, a pretexto de um artigo que criticava e se colocava contra o poder dos Jovens Turcos escrito por N. Yiannios e publicado em Ergatis, membros do grupo editorial foram presos, enquanto o jornal e o Centro Socialista da Turquia foram banidos. Membros do grupo editorial como V. Kountouris foram encarcerados, enquanto N. Yiannios foi deportado para a Grécia (de acordo com alguns historiadores, ele escapou quando o seu processo de julgamento dava início).
Apesar dos contínuos processos contra ele, Zacharias Vezestenis manteve as suas atividades políticas em continuidade, renomeando o Centro Socialista da Turquia para Grupo de Estudos Sociais [1]. Mais tarde, contribuiu para a formação do Diethnis Panergatiki Enosi (“Sindicato Internacional de Todos os Trabalhadores”), no qual participaram principalmente cidadãos gregos e judeus.
Diethnis Panergatiki Enosi era uma organização sindicalista pura [2], ao passo que a maioria de seus membros aderia às ideias e à forma de organização anarcossindicalista ou sindicalista revolucionária. Desde o início, a organização estabeleceu laços fraternos com os Industrial World Workers (IWW) nos EUA, conseguindo obter material impresso de propaganda e de informação que foram traduzidos e publicados no jornal da organização Eleftheros Anthropos (“Homem Livre”) em nome de Z. Vezestenis. Além disso, Vezestenis mantinha contato e enviava relatórios para jornais franceses anarquistas e da classe operária, como Le Temps Nouveaux (“Os Novos Tempos”) e Bataille Syndicaliste (“Batalha Sindicalista”). Vezestenis também escreveu um livreto intitulado I.W.W. – Labor. Targets, Organization and Program, publicado em Constantinopla em 1920.
Como Kostas Sklavos menciona no livro Labor Stories de Nasos Bratsos, Diethnis Panergatiki Enosi era uma organização anarcossindicalista muito bem estruturada, com ritmo interno de funcionamento, reuniões e deliberações entre os seus membros, etc. Kosta Sklavos mesmo era um membro da Diethnis Panergatiki Enosi, antes de se mudar para a Grécia e tomar parte em organizações trotskistas da Grécia.
No entanto, ainda hoje não sabemos quando, como e por que esta organização foi desmantelada. Segundo algumas informações, figuras importantes dos movimentos gregos de esquerda no final de 1910, como Serafim Maximos, tiveram uma curta adesão a esta organização. Mas sabe-se que um proeminente anarquista grego da época, Stavros Kouhtsoglous [3], colaborou com a Diethnis Panergatiki Enosi.
As ideias anarquistas também foram difundidas nos círculos da comunidade armênia de Constantinopla. A comunidade armênia contava com aproximadamente 100.000 cidadãos em Constantinopla, enquanto, em Tessalônica, notamos que o seu número era de apenas algumas centenas. Os anarquistas, em sua maioria, faziam parte da ala de esquerda do Partido Social-Democrata Armênio (Hinjak), fundado em 1885 em Genebra. O partido publicava um jornal com o mesmo nome. Devemos notar aqui, que, durante o período 1893-1894, o referido jornal foi publicado em Atenas.
[1] O desenvolvimento de Grupos/Clubes/Círculos de Estudos Sociais parece não ter sido algo incomum nas trajetórias mediterrâneas de anarquistas, como se pode notar no caso egípcio (GORMAN, Anthony. Diverse in race, religion and nationality…but united in aspirations of civil progress”: the anarchist movement in Egypt 1860-1940. University of Edinburgh, 2010) (N.T.).
[2] Provavelmente, com “organização sindicalista pura”, Troaditis quer expressar que Diethnis Panergatiki Enosi não tinha uma vinculação formal ou programática com qualquer ideologia política específica, nem mesmo com o anarquismo (N.T.).
[3] Através de outras fontes, é possível acompanhar a trajetória desses anarquistas gregos, pois “é interessante que os trabalhadores tabacaleiros europeus que viviam no Egito ‘radicalizaram-se’ por meio do contato com os sindicalistas egípcios e retornaram à Europa para difundir os ideais anarquistas. Dois exemplos notáveis desse processo foram o anarco-sindicalista Konstantinos ‘Kostas’ Speras (1893-1943) e o anarco-comunista Stavros Kouchtsoglous (1878-1949). Ambos radicalizaram-se no Egito e retornaram à Grécia convertendo-se em lideranças nos sindicatos revolucionários locais. Speras falava árabe fluentemente e Kouchtsoglous havia se envolvido com numerosas manifestações operárias em Alexandria e Istambul. Ambos ajudaram a fundar sindicatos anarco-sindicalistas na Grécia, incluindo a constituição de uma minoria sindical na Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia (GSEE), em 1918” [SCHMIDT, Michael.; VAN DER WALT, Lucien. O movimento anarquista no norte da África (1877-1951). Salamandra Negra, 2017, p. 5] (N.T.).